Depois de sair correndo da sessão de Embargo nesse último domingo, fui direto conferir Machete (2010), novo filme do diretor Robert Rodriguez. Não vou nem dizer que é baseado no trailer falso homônimo da joint-venture com Quentin Tarantino que gerou Grindhouse e que essa produção está recheada de nomes famosos. Devo confessar uma coisa antes de tudo isso, relutei em assistir Machete na tela grande. Por dois motivos: primeiro as frias críticas, inclusive do colega Felipe M. Guerra no seu blog Filmes para Doidos e segundo, de todos os filmes que assisti até agora, este é o de maior potencial para ter vasta distribuição em circuito nacional.
Mas, pensei também comigo mesmo, que já era hora de dar um tempo na "culteza", sentar na poltrona e deixar o cérebro descansar. Saí de Machete com duas impressões diferentes: A de um filme chato, mas que causou um furor animador no público presente.
Resumidamente para quem ainda não sabe, Machete Cortez (interpretado por Danny Trejo) é um Federale (um equivalente a um agente do FBI do Mexico) que é o melhor de sua espécie. E está na bota do traficante Torrez (Steven Seagal) para resgatar uma gostosinha que não se sabe de onde veio, não se sabe pra onde vai. Também isso não importa, já que ela aparece nua.
Acontece que essa gostosinha é cupincha de Torrez e arma uma pra ele (Renato Russo cantaria: e Machete foi pro inferno pela primeira vez), acaba indefeso e Torrez decapita sua esposa na sua presença, além de matar a filha antes disso (fora de cena) e toca fogo na casa deixando o mexicano a própria sorte.
Entram os créditos iniciais (com cada nome sendo aplaudido pela audiência do cinema) e alguns anos depois sabe-se lá como, Machete sobreviveu e imigrou ilegalmente para os States. Ele só quer a mesma vidinha de sempre, quando é recrutado por Michael Booth (Jeff Fahey) para assassinar o senador John McLaughlin (Robert De Niro).
A alegação é que com a reeleição do senador, será construída uma cerca gigantesca protegendo a fronteira entre México e Estados Unidos acabando com a mão de obra barata do país. McLaughlin, além disso, financia (e participa as vezes) de um grupo de vigilantes responsável por assassinar mexicanos na travessia da fronteira em patrulhas lideradas por Von Jackson (Don Johnson).
Convencido pelos argumentos e por 150 mil dólares que doa para a rede de imigração ilegal coordenada por Luz (Michelle Rodriguez), Machete parte para a execução do plano, contudo é traído novamente (...e Machete vai para o inferno pela segunda vez...). Leva um tiro no ombro, mas consegue fugir.
A partir daí o federale é perseguido por Sartana Rivera, oficial de imigração, mas consegue convencê-la do envolvimento de Booth no esquema que também se liga a Torrez, também é perseguido por muitos capangas contratados (um dos mais fodões interpretado por Tom Savini) e vai buscar a ajuda do irmão interpretado por Cheech Marin. Enquanto Luz e a rede começam a se unir para enfrentar os vigilantes de Von Jackson.
Ufa. Tudo isso que eu escrevi acima é o grande problema do filme: TMI, ou "Too Much Information". O roteiro é tão estupidamente complexo para dar espaço aos excessivos personagens que as excelentes cenas de ação acabam entrecortadas com diálogos intermináveis e explicações muitas vezes desnecessárias. Rodriguez criou um monstro que não conseguiu alimentar. Aparentemente Rodriguez não aprendeu com as críticas ao seu camarada Tarantino em "A Prova de Morte" de Grindhouse.
E venham as cenas de ação, que infelizmente não são tão numerosas, mas quase todas elas muito bem encenadas e coreografadas. Ponto algo para os absurdos do roteiro que oscilam entre o pastelão (quando Machete acerta a senha do laptop de Booth ao invés de aparecer o chavão "Acesso Permitido", aparece escrito "Bingo!") e as referências inteligentes (quando De Niro rouba um taxi para fugir de Machete numa provável alusão a Taxi Driver. Nessa cena eu realmente juro que esperava que ele soltasse um "você está falando comigo?", pena que não veio). Pena que o final não seja tão impactante e chega as raias do até um pouco ridículo.
Dois companheiros de cena improváveis: Robert De Niro e Steven Seagal interpretam os dois grandes nomes do filme: O primeiro animadíssimo como se estivesse imitando o filho do Bush e o segundo com um sotaque espanhol medonho de dar pena, eu rachava de rir sozinho toda vez que ele chamava seus associados de puñeta.
E pra fazer a alegria da garotada masturbantica, muita nudez e cenas sexys envolvendo as gatas do filme e atirando em grandes e imponentes armas e um alento aos fracassados com as mulheres, se Trejo consegue feio daquele jeito pegar todas as minas do filme, até você meu caro tem esperança nesse mundo. Escolha seu veneno: Rodriguez, Alba e até Lindsay Lohan interpretando a filha de Booth como ela mesma (uma aspirante atriz drogada e promíscua).
Entre mais erros que acertos, só posso dizer que fiquei muito feliz não pelo filme em si, mas pela reação dos espectadores presentes ao cinema lotado do festival. Gargalhadas, gritos e a unica salva de palmas que eu vi até agora entre todos os filmes do festival (aliás, jamais vi tamanha interação espontânea em qualquer cinema que tenha entrado). O que só me faz pensar numa coisa: Se Rodriguez tivesse menos noção do ridículo e não tentasse dar o passo maior que a perna ao uma história longa demais, seria mais que o filme do ano, mas a criação de um marco do cinema de ação. Uma pena que não tenha sido assim.

P.S.: Será que se fosse no Brasil, poderíamos chamar o filme de Peixeira?

Trailer: