Tem certos tipos de filme que me confundem, sabem? Quando eu não consigo encontrar o fio da meada da história porque o diretor ou o roteiro não assumem o ponto focal da narrativa, mesmo me considerando um cara rasoavelmente interessado em cinema, tem certas coisas que não dá pra entender. The Killer Inside Me (2010) dirigido por Michael Winterbottom (O Preço da Coragem) é um desses filmes.
Baseado no livro homônimo escrito por Jim Thompson lá nos idos de 1952, Winterbottom mescla Noir, Serial Killer, Drama, Erotismo, Romance e investigação policial tudo no mesmo saco. O roteiro muito mais complicado do que deveria afeta o resultado final, contudo algumas cenas certamente ficarão gravadas na mente do espectador mais aventureiro.
Na época em que a trama se passa (a mesma da data do livro) no interior sulista dos Estados Unidos, as pessoas eram mais polidas e honestas umas com as outras, especialmente no interior. A educação, inclusive entre policiais e transgressores da lei era a base de uma sociedade bem estruturada. Lou Ford (Casey Affleck, muito bom no papel), assistente do xerife de uma pequena cidade, é bem deste tipo: Ponderado, controlado, calmo e respeitador. Até o dia em que recebe uma missão de seu chefe.
O xerife (interpretado por Tom Bower) pede a Ford que vá até um casebre nos limites da cidade e expulse uma prostituta que mora por lá a pedido do pastor da igreja local. Ele vai até a casa e encontra Joyce Lakeland (Jessica Alba), os dois após uma discussão e alguns sopapos, se apaixonam instantaneamente.
A vida de Ford então vira de ponta cabeça: Envolvido sexualmente com Joyce e ao mesmo tempo namorando a típica vizinha que é um partidão (Kate Hudson, um pouco acima do peso para o papel), vai tendo encontros cada vez mais intensos com a prostituta. Neste meio tempo, ele descobre do presidente do sindicato dos construtores civis (o veterano Elias Koteas) que seu irmão foi morto em um acidente causado deliberadamente alguns anos antes pelo magnata da construção da cidade Chester Conway (Ned Beatty).
O fio de sanidade que segurava Ford se rompe quando ele resolve aproveitar o envolvimento de Joyce com o filho de Chester para se vingar da morte do irmão, nem que para isso ele tenha de matar a amante para criar uma motivação para o crime.
Após a armação (que Ford deixa muitas pontas soltas, pois não há crime perfeito) ele passa a ser investigado por Howard Hendricks (Simon Baker, que tanto no papel quanto na atuação, lembra The Mentalist com sotaque do interior), mas em sua loucura, Ford fará o que for preciso e se livrará até das pessoas que gosta para esconder seu segredo.
Tá entendendo o que eu quis dizer, todo esse roteiro sobre a armação e muitas outras cenas depois dessa acabam se complicando demais em meio a tantas explicações. Depois de uma abertura excelente e os primeiros momentos um filme que dá um tom mais simples e ágil, não tarda muito e se torna uma produção difícil de acompanhar (ou talvez eu estivesse com sono lá pela metade do filme, mas eu duvido muito que tivesse afetado o meu discernimento).
E, tal como Machete (não que estes dois filmes possam ser comparados em outros termos), The Killer Inside Me possui muitos papéis de destaque a desenvolver e com grandes atores que acabam jogados ao relento de tempos em tempos. Destaco Bill Pullman, que tem um papelzinho (quase uma ponta) lá pelo final da projeção, tem uma função quase irrelevante na trama e desaparece. O mesmo acontece quase na mesma proporção com Ned Beatty e Simon Baker.
Agora, aos que assistirem, certamente ficarão marcados com a crueza de duas cenas envolvendo Ford espancando mulheres (sem medo de spoilers: Jessica Alba e Kate Hudson). Gráfico, violento, brutal, gratuito e muito bem filmado, muitas pessoas vão virar o rosto da tela, o grande porém é que apesar desta excelência, como o roteiro não faz por merecer (especialmente o final) este impacto infelizmente não tem um contexto que o sustente e o conceito de falsa profundidade é frustrante. Winterbottom misturou muito as estações e se tivesse se inspirado um pouco mais em O Homem que Odiava as Mulheres, tanto no clima quanto no estilo, seria melhor sucedido.

Trailer: