Eu posso me considerar um cara sortudo no Festival de Cinema do Rio de Janeiro e dá para notar pelas análises aqui no blog. Sempre que eu tinha de optar em ver alguma produção de um país não tradicional no cinema ou de diretores estranhos aos ouvidos, minhas escolhas se mostraram acertadas e o mínimo que eu vi era uma produção interessante, divertida ou as vezes até surpreendente.
Já não posso dizer o mesmo de Ano Bissexto (Año bisiesto ou Leap year, 2010), filme mexicano dirigido e escrito por Michael Rowe que neste debut já levou o Caméra d'Or no Festival de Cannes 2010. Digo isto porque este é aquele tipo de produção que perjorativamente é chamada de "filme de festival", formatada para aquele público cult de festival que os cidadãos mais comuns fogem igual o diabo e que os intelectuais levantam aplausos após a sessão.
Entendam o que eu estou dizendo: O filme começa no dia 1º de Fevereiro de um ano bissexto (daí o título) e se encerra no dia 29. Laura (Monica del Carmen) é uma solteirona de 25 anos que mora sozinha e trabalha em casa como editora freelance de revistas de segunda classe (imagino que seja o caso, por causa da pobreza das habitações).
Sejamos francos, Laura não tem um padrão de beleza que os homens achariam atraentes e por isso a mulher sofre e entre se masturbar na janela olhando o casal vizinho em seus momentos juntos, ela se entrega como vinho barato em festas levando homens para casa a fim de satisfazer suas necessidades sexuais, mas jamais encontrou alguém que possa compartilhar seus segredos, desejos e temores.
Até que um belo dia, em uma dessas capturas, ela conhece Arturo (Gustavo Sánchez Parra). O homem no início tenta ser gentil e saber mais da mulher, até que ela começa a se entregar com mais frequência e com mais intensidade. O problema é que Arturo tem métodos cada vez mais violentos e sórdidos de atingir o prazer, mas a entrega de Laura é tão integral que ela está dispostas até a ir as últimas consequências nem que isto possa matá-la.
Não deixei muita coisa para o deleite, o roteiro é praticamente este sem muitas histórias paralelas. Vejam bem, pegar esse resumo e esticar por 90 minutos não é coisa para amadores, e não que Rowe seja um amador, contudo certamente entregou um filme que não é para qualquer um. O ritmo é absurdamente moroso, os protagonistas dão pausas violentas entre suas linhas de diálogo (quando tem alguma) e um clima que deveria ser de tensão acaba se intercalando com esta calmaria exagerada.
E não é implicância minha. Primeiro, 99,9% das locações do filme se passam dentro da casa de três cômodos de Laura. Segundo, cada cena de relevância para o desenvolvimento da trama é alternado com uma das seguintes situações: Laura fazendo sexo, Laura em seus momentos de higiene pessoal, Laura comendo e/ou falando no telefone.
Da parte em que Arturo fica mais esquisito pra frente, o ritmo melhora, mas o adjetivo não: É um filme embaraçoso de se assistir. [SPOILERS NO RESTANTE DO PARÁGRAFO] Se já era de se olhar de viés Laura se masturbando, imagine um golden shower (ou no bom português: uma mijada) de Arturo no corpo nú de Laura, ou ver Laura masturbando Arturo falando para ele seria bom se ele a esfaqueasse enquanto a fode... Constrangedor para dizer o mínimo.
Faltou, a mim, coerência e empatia com a protagonista (pois tirando Arturo e Laura, só tem mais um personagem que é o irmão dela que aparece em umas duas cenas somente) prejudicados pelo roteiro, narrativa e atuação de Monica del Carmen.
Se a intenção do diretor era transmitir para o público a solidão através do tédio da protagonista, acho que ele conseguiu. Ainda bem que Rowe decidiu usar Fevereiro para se passar o roteiro, pois se fosse um mês de 31 dias, teria saído no meio da sessão.

Trailer: