De um filme baseado em obra de José Saramago você deve esperar muitas coisas, mas com certeza uma delas é certo: Algum tipo de situação bizarra que acontece e se desfaz sem motivo aparente. Embargo (2010) filme de nacionalidade tripla (Portugal, Espanha e Brasil) dirigido pelo português António Ferreira não foge a regra e entrega o que promete desde o poster.
A história se passa num momento difícil para os portugueses: O país sofre um embargo dos países produtores de petróleo e logo começa a faltar mantimentos e o combustível sobre a preços estratosféricos. Tanto que inclusive Nuno (Filipe Costa) o protagonista, precisa se usar de trambiques para conseguir o ouro volátil e abastecer seu pequeno veículo, afinal com o que ganha em um trailer de lanches, mal consegue sustentar a família, composta por sua esposa Margarida (Cláudia Carvalho) e sua pequena filha Sara (Laura Matos).
Mas Nuno é inteligente e ambicioso e mesmo com estas limitações consegue fabricar um protótipo de um aparelho que promete revolucionar a indústria de calçados: Um scanner de pés, para fabricação de sapatos sob medida.
Após muita batalha, o homem consegue uma reunião com Sr. Alves (Fernando Taborda), grande industrial e potencial comprador. Porém enquanto está indo para a reunião, Nuno sofre um acidente com seu carro e apesar de não se sair ferido, percebe que não consegue de jeito nenhum se levantar do assento do motorista (mas não está paraplégico, ele ainda consegue dirigir). E agora? Como Nuno pode sair dessa enrascada e vender sua máquina para assegurar o futuro de sua família em meio ao caos econômico do país?
Com uma palheta de cores quentes bem limitada, adequada a proposta do filme e um grande trabalho de fotografia, o diretor Ferreira faz um trabalho muito interessante na adaptação ora caricato, ora dramático (o que realmente lembra os irmãos Cohen como afirma uma crítica do cartaz), colocando o protagonista em situações cotidianas absurdas por causa de seu pequeno "problema". Tirar dinheiro de um caixa automático, por exemplo, é um sofrimento sem precedentes.
Mas o filme falha ao colocar suas lentes quase exclusivamente no personagem principal. Tudo bem que o ator Filipe Costa faz um excelente trabalho, contudo ao não dar muito espaço para que os amigos de Nuno e familiares se desenvolvam, me senti num conflito interno se eu deveria ficar com pena do rapaz ou deixá-lo sofrer ao relento sem dó por causa disso.
Outra coisa, não existem muitas alternativas ou sacadas inteligentes, reflexo talvez do pobre desenvolvimento do curto material original que gerou um filme também curtinho (83 minutos, aproximadamente). É uma produção previsível e segue direitinho a cartilha, exceção feita aos últimos 15 minutos que sai da mesmice pra cair na bizarrice absoluta. Mas quem sou eu pra falar alguma coisa sobre "bizarro" em uma produção em que o herói não consegue descolar a bunda do banco do motorista do carro?
Ao fim das contas achei um filme muito bem realizado, contudo sem o desenvolvimento do material adequado. Quando se tenta realizar uma produção que só fica no campo das ideias, o resultado pode não ser tão marcante como foi com Embargo, mas fico na expectativa do que Ferreira poderá fazer se tiver nas mãos em seu próximo trabalho um roteiro mais rico e cheio de detalhes.
Nesta exibição de Embargo do Festival do Rio o diretor António Ferreira estava presente e proveria aos presentes uma pequena sessão de perguntas e respostas. Eu particularmente tinha algumas perguntas a fazer, contudo por problemas no projetor, o filme atrasou cerca de 20 minutos (já pensou que chato o equipamento dar pau logo quando o diretor está presente?) e por causa desse atraso eu tive que sair meio correndo pra não perder o próximo da fila, Machete.

Trailer: