De repente você está no meio de uma cidade relativamente desconhecida e reconhece uma pessoa que não vê há muito tempo, você a aborda e a primeira coisa que diz é "fulano(a), que mundo pequeno!". Pois bem, quer você acredite em destino, plano superior ou que são somente meros acasos, não se pode negar que nossa vida pode ser interligada com a de outras que nunca vimos antes através de uma cadeia de ações e reações que podem ser igualadas a teoria do caos.
Se nada disso faz sentido para você, recomendo assistir a Ilusões Óticas (Ilusiones ópticas), drama cômico de nacionalidade tripla (Chile, Portugal e França) de 2009, dirigido por Cristián Jiménez, que é o fiel retrato em ficção do que estou tentando explicar.
A cadeia de eventos começa com Juan (Ivan Alvarez de Araya), um massagista deficiente visual que ficou cego por 30 anos, até conseguir uma operação na córnea que trouxe luz a sua vida (ainda que enxergue mal), contudo com isto vieram os problemas: Não é mais aceito pelos outros cegos, tem dificuldades de adaptação e não consegue mais trabalho, pois segundo ele, suas clientes preferiam mais quando ele era cego.
A clínica que o operou faz parte da empresa privada que administra a saúde pública na cidade onde mora. Com sérios problemas financeiros, Gonzalo (Alvaro Rudolphy), um dos gerentes, convence Juan a participar de um comercial para promover a companhia.
Gonzalo é casado com Rita (Valentina Vargas), uma coroa gostosona que é cleptomaníaca e bate ponto todos os dias no shopping para levar algum produto sem pagar. Rafa (Eduardo Paxeco) é o novo segurança do shopping (admitido depois que o anterior morreu engasgado com um sanduiche na presença de Juan) e começa a se envolver sexualmente com Rita.
A irmã de Rafa, Manuela (Paola Lattus), preocupada com sua beleza, pretende fazer uma cirurgia para colocar silicone e é objeto de desejo de David (Gregory Cohen), colega de trabalho que acaba de ser demitido e está passando por um programa de re-adaptação ao mercado. Sabe aonde os dois trabalham? Na mesma empresa de Gonzalo.
Essa cadeia circular de eventos onde cada ação de um personagem reflete no acontecimento em seguida, com outros personagens, o que é interessantíssimo de acompanhar. Outra coisa que me deixou com uma impressão altamente positiva, foi a maneira leve, descompromissada e pouco complicada da forma que as histórias são apresentadas. Equilibrado, sem chamar o espectador de burro e ao mesmo tempo sem complicar demais.
E confesso que me deixei levar pela sinopse oficial do Festival que dava a entender que seria um drama mais sério. Que nada, mesmo que o conceito não seja exatamente novo e fique grilado com isso, o filme vale só cenas cômicas a perder de vista (especialmente no segundo ato) e diálogos afiados e inspiradíssimos. A propósito, sabe as Marginais da revista Mad? Aquelas piadinhas desenhadas por Sérgio Aragonés que ficam nas beiradas das páginas e que muitas vezes são mais engraçadas que toda revista? Neste filme é bom prestar atenção não somente na ação principal, mas em toda a tela, algumas das situações mais divertidas estão fora do ângulo de ação da câmera. Fica a dica.
Podem ser encontrados alguns defeitos referentes ao baixo orçamento, poucas tomadas externas e algumas vezes o cenário parece um pouco escuro demais (podem ser os rolos da sessão em que assisti), mas suplantando todos os defeitos que venham a aparecer, Ilusões Óticas é um excelente filme pra levar a namorada, os amigos ou mesmo sozinho e ainda assim sair satisfeito.

Trailer: