Os começo dos anos 70 foram um período a parte na história do cinema. Com a "decadência" da era de ouro de Hollywood, muitas forças alternativas emergiram, com uma voracidade que jamais veremos novamente: Exploitation e Blaxploitation para citar dois e sem eles não teríamos o cinema indie como o conhecemos hoje. Na segunda metade da década, mais especificamente em Nova York, não somente o cinema estava em decadência, mas toda a cidade, que chegou a declarar falência. Neste cenário surgem algumas das figuras mais bizarras que já pegaram em uma câmera, é sobre o que fala o espetacular documentário Blank City de 2009 dirigido por Celine Danhier.
Sabe aquele negócio de "Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça", substitua por "Uma câmera na mão, anfetaminas na cabeça" e você tem algo próximo do que foram os filmes da chamada No Wave do final dos anos 70 e o cinema de transgressão, uma evolução nada natural, fomentado na primeira metade dos anos 80.
Aos não iniciados (eu particularmente não era), No Wave era uma contra-corrente cultural, onde aquelas mesmas pessoas que gostavam de música experimental, pinturas estranhas dos círculos de arte contemporânea e outros bichos, empunharam uma câmera e resolveram rodar suas películas. Com roteiros na maioria improvisados, recursos totalmente escassos e sem autorização para nada, eram filmes de arte e de guerrilha ao mesmo tempo.
Conforme alguns diretores foram ficando famosos e o circuito começava a se abrir, somado com a opressão dos órgãos públicos e da polícia sobre os cineastas, a forma com que eles disseram "vão se fuder" era ser mais agressivo, mais sexual, mais exagerado e ainda mais controverso. Surgia o cinema de transgressão.
Com depoimento de diretores, atores, músicos e diversos profissionais que trabalharam naquele tempo, o documentário é riquíssimo de informações e de como a precariedade gerou alguns dos mais estranhos e cultuados pequenos filmes da época. Não obstante, muitos cineastas chegaram as vias de roubar e trapacear para conseguir míseras latas de filme e as câmeras Super 8 eram vendidas nas ruas pelas mesmas pessoas que vendiam drogas ilícitas aos transeuntes.
Problemas na distribuição, anarquia e brigas, tudo é relatado com requintes por Amos Poe, Jim Jarmusch, Nick Zedd, John Waters, Steve Buscemi, entre outros. E obviamente o documentário não ficaria completo sem pedaços destes filmes Bizarros, assim, em maiúsculo mesmo e está repleto deles.
Não há muito mais o que dizer, tem gente que acha que esses filmes são só frutos do cérebro aditivado de esquisitóides, outros consideram obras de arte de rompimento de barreiras criativas. Não importa de que lado você está, se gosta de cinema e de cinema marginal, mesmo que nunca tenham visto quaisquer filmes dessa onda, faça um favor a si mesmo e procure Blank City para ver imediatamente.

Trailer: