Fechando a sessão dupla de ontem, aconteceu uma coisa inesperada: Fui a um cinema com a intenção de assistir a Buraco Negro, um filme francês de suspense que eu nunca ouvi falar. Como já estava lotado, para não perder viagem e a grana do metrô, fui conferir O Fio (Le Fil, 2009) produção franco-belga parte da exposição Mundo Gay do Festival do Rio. As coisas que eu não faço pelo cinema...
Mehdi Ben Attia dirige esta produção sobre Malik, um arquiteto que estudou e morou na França e que volta a Tunísia, sua terra natal após o falecimento do pai vítima de um câncer, para morar com a mãe Sara (Claudia Cardinale). De uma família rica, Malik é homossexual, mas não contou nada para a mãe ou para o pai enquanto vivo, tem tórridas relações com michês (em horário de expediente, vai vendo...), contudo tudo parece mudar quanto conhece Bilal (Salim Kechiouche), o jovem zelador da chácara onde Malik mora.
O tal fio do título é um fio psicológico que aparece de vez em quando, um problema que Malik tem quando fica nervoso ou está em conflito interno (como é o caso de seu pretenso relacionamento com Bilal) que o segura e o enrola tornando-o preso e oprimido. Pelo menos foi o que eu entendi, já que esse "fio" não é muito recorrente e fica difícil de entender a metáfora que vemos na tela.
O filme se desenrola com as frustrações de Malik em conviver com o homem que ama sem poder tocá-lo e tentando seduzir o rapaz (caso se perguntem, Bilal também é homossexual). O sofrimento e o fingimento chega ao ponto de o arquiteto anunciar a mãe um casamento de mentira com uma amiga de trabalho e que é lésbica (Caralho, esse mundo está louco!) com o objetivo de doar seu esperma para que ela tenha um filho com a companheira.
No começo do terceiro ato, o foco muda. Sara descobre da pior maneira possível a homossexualidade do filho (cena esta que arrancou gargalhadas de todo o cinema, inclusive deste escriba) e busca nos amigos uma explicação sobre como agir e até como se sentir e se portar, rendendo mais outro bocado de risadas.
Este filme pode ser dividido em três partes distintas: Primeiro somente em Malik e seu conflito amoroso interno e quase platônico pelo desejo por Bilal (os trocadilhos com a palavra Bilau são quase coincidentais, ok?) configurando um drama, a segunda parte focada em romance entre os dois rapazes e as concessões que ambos precisam fazer. E por último, sequencias mais leves usando Claudia Cardinale como fio condutor.
É uma produção interessante com grandes valores de fotografia, embora as interpretações não sejam assim uma Brastemp, um roteiro simples e bem dirigido, sem muitas firulas e aquele clima artistico que poderia por tudo a perder. Nada é explícito, mas ficam minhas ressalvas registradas as cenas mais... aham... íntimas dos rapazes. Vamos combinar uma coisa, sem preconceito, ok? Um homem sozinho já é estéticamente feio, dois homens se pegando é extremamente feio.
No final das contas fiquei positivamente impressionado, tinha a expectativa de um drama pesado e repleto de momentos intimistas, acabei vendo um filme aberto, franco, ainda que pudesse rir mais de si mesmo em favor do público, é uma boa diversão, se você não se incomodaria em ver dois homens se amassando no meio do caminho, claro.

Trailer: