Nessa última sexta-feira, dia 08 de Outubro, fui ao estádio do Morumbi em São Paulo assistir ao melhor power trio ainda em atividade: os canadenses do Rush em sua turnê de clássicos, Time Machine tour.
Mais do que três talentos como instrumentistas individuais, neste show me senti como fazendo parte de um plano maior, uma reflexão sobre a música e sobre os gostos musicais. Primeiramente, gosto é gosto, posso não ter aprendido a ser eclético, mas a pluralidade me ensinou a ao menos respeitar os diferentes gêneros. Contudo sempre que eu discuto músicas com amigos e coloco meus argumentos e o porque de eu gostar na maioria de bandas que começaram carreira quando eu nem era nascido, se não consigo convencê-los coloco-os em reflexão.
Para mim, o sucesso oriundo de esforço na música deve ter pelo menos um destes três pilares: Bons instrumentistas, bons interpretes ou bons compositores. As bandas do passado, por não ter as facilidades financeiras e tecnológicas que temos hoje, tinham que se desdobrar para se sustentar nestes conceitos, o Rush tem os três. E precisaram ralar pra chegar no topo, consolidar sua carreira e fazer música de qualidade.
Se Darwin ainda fosse vivo, acharia irônico pensar que enquanto o homem evolui cada vez mais em seu conhecimento tecnológico, a vida moderna trouxe uma preguiça de pensamento refletida na musicalidade do que toca na rádio as beiras do retardo mental. Se o que não fazia sentido nos anos 60 era sob a influência de drogas, os "grandes" nomes do cenário musical (que ainda tem a heresia de se comparar aos Beatles) não fazem sentido por pura incompetência e falta de talento. Estamos a caminho da Idiocracia? A conferir...
E é por isso que eu gosto do que se considera "velho" ou "ultrapassado", por causa desta involução, quase nada nos dias atuais em matéria de música sequer chega perto do que era feito no passado. Séculos atrás tínhamos Mozart, Bach, Vivaldi... Nos anos 50, Elvis. Nos 60, Beatles, Creedence, Cream. Nos 70, Hendrix, Queen, Pink Floyd, Zeppelin. Nos 80, Raul Seixas, Titãs, Metallica, Nirvana. Hoje: Fresno (que deu uma sorte de não levar garrafada ao abrir para o Bon Jovi), Restart, Lady Gaga. Se esse é o reflexo da nossa geração, já posso ver a próxima década: Discos dos teletubbies? Sucessos de um acorde e um refrão? Lavagem cerebral? George Orwell não poderia ter predito um futuro pior.
Mas voltando ao assunto, se Geddy Lee (baixo, teclado e vocal e que poderia interpretar Freddy Krueger no lugar do Robert Englund numa boa), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria) estivessem em três bandas diferentes já teria motivos suficientes para ver os três em shows separados, mas juntos, são insuperáveis. E olha que eu não conhecia metade das músicas do show, contudo vê-los arrebentando cada um em seus instrumentos é um exercício que qualquer baixista, guitarrista e baterista deveria experimentar.
Minha aventura no show do Rush começou no próprio dia do show, apesar de ter comprado ingressos meses antes (e com isso dispensado o show do Bon Jovi e do Scorpions por causa de grana) não tinha pensado em como chegaria ao inalcançável estádio, que dizem as más linguas não tem metrô até lá por imposição dos ricos habitantes do bairro que não querem facilitar o acesso dos pobres. Abençoado seja o Google e consegui fazer algumas consultas e cheguei lá sem problemas uma hora e meia antes do início.
Com uma excelente visão do palco, percebia a simplicidade que já tinha constatado ao assistir os DVD's do trio: Um palco grande, com telões, excelente iluminação, mas simples nos elementos, sem pirotecnias. Tudo para colocar o foco na música, no som. Nada mais adequado ao momento. Notei também que o estádio estava mais vazio do que eu esperava: A arquibancada laranja (que fica de frente para o palco) estava praticamente vazia, a vermelha (na lateral esquerda) totalmente sem ninguém, as cadeiras inferiores também a despeito da pista estar com muita gente. Vi depois que foram 38 mil pessoas, um grande número, mas podia ser maior. Eu gosto de crer que o fato de o show ser exatamente na véspera de um grande feriado fez a diferença e afastou o público.
Pontualmente as 21h30 as luzes se apagam e começa um engraçadíssimo vídeo de introdução no "passado" da banda (que se chamava Rash) tocando Spirit of the Radio em ritmo de Polka(!). Assista abaixo a gravação de um fã:



E o show começa soltam um petardo atrás do outro, por praticamente 90 minutos! Difícil dizer se estes três excepcionais músicos estavam inspirados, pois tamanha é a competência que mesmo num dia ruim eles devem tocar muito. Agora o público também foi muito receptivo, mas também não foram como no "Rush in Rio", o DVD mais incrível já gravado de qualquer banda que continua insuperável. 
E após o primeiro Set, Lee diz simplesmente que "temos muitas músicas ainda, mas como estamos velhos, precisamos de uma pausa". A platéia ri a plenos pulmões e começa um break bem oportuno, olho no relógio e não acredito que já são quase 11 da noite. Alguns mitutos depois, um "odômetro do tempo" começa a rodar até chegar ao ano de 1980. É o momento que muitos aguardavam, a íntegra do album Moving Pictures que já começa com outro grande hit Tom Sawyer. Mas não sem antes outro vídeo hilário:



E logo logo o ponto alto da noite: YYZ, a música instrumental que os brasileiros adoram cantar. Em uníssono, muito divertido. E depois de fechar Moving Pictures ainda muitas surpresas, incluindo a primeira parte de 2112 fechando o set com Far Cry do último disco, Snakes and Arrows. Não contei, mas o set list também incluiu duas músicas do próximo disco, Clockwork Angels e como todas as demais foram bem recebidas pelo público. Destaque absoluto para o interminável e totalmente excelente "Love 4 Sale", solasso de bateria de Neil Peart que faz jus ao título de melhor baterista vivo da música. Um polvo não tocaria tão rápido.
Ao fim de Far Cry, a banda se despede e volta logo em seguida para o bis com La Villa Strangiato e Working Man para fechar com um clipe do filme "Eu te amo, cara", em que os três fazem uma ponta, já que o personagem central é fanático pela banda. Mas nesse momento já tinha deixado o estádio, pois sabendo da minha localização, resolvi evitar o trânsito e o transtorno na longa viagem para casa, mas satisfeito pois embora forçados pela avançada idade, tocam muito melhor que muito garoto com menos da metade da idade deles.



Set List

Parte 1:
"The Spirit of Radio"
"Time Stand Still"
"Presto"
"Stick It Out"
"Workin' Them Angels"
"Leave That Thing Alone"
"Faithless"
"BU2B" (de Clockwork Angels)
"Freewill"
"Marathon"
"Subdivisions"

Parte 2:
"Tom Sawyer"
"Red Barchetta"
"YYZ"
"Limelight"
"The Camera Eye"
"Witch Hunt"
"Vital Signs"
"Caravan" (de Clockwork Angels)
"Love 4 Sale" (Solo de Bateria, e que solo!)
"Closer To The Heart"
"2112 Overture / The Temples of Syrinx"
"Far Cry"

Bis:
"La Villa Strangiato"
"Working Man"