Se na quarta feira escolhi um filme mais abrangente e de fácil digestão para ver, inclusive com um elenco conhecido, ontem fui pegar uma pedreira pesada. Um drama francês forte, de altíssima carga dramática e de público potencial limitado: Of Gods and Men (Des hommes et des dieux) de 2010 dirigido por Xavier Beauvois e ganhador do premio especial do juri em Cannes.
Baseado em uma historia real, o roteiro conta a história de um grupo de monges idosos ou de meia idade vivendo num monastério na Argélia, suas vidas são tranquilas e sua influência é um grande beneficio para o pequeno vilarejo que se formou em volta, pois além de tudo, a pobre comunidade tem somente um medico que calha de ser um dos monges.
Porem as milícias revolucionárias começam a atacar no país, a guerra esta armada, o banho de sangue se espalha pelo lugar e o líder do bando com um grupo de milicianos acaba batendo nas portas do monastério em busca de remédios e do monge medico logo na noite de Natal.
Christian (Lambert Wilson), o lider dos monges, bate o pé contra a invasão. Afinal aquele é um lugar de paz, não de armas e a milícia recebe um não como resposta. Num momento tenso, confrontando somente com palavras as AR-15 dos terroristas, o monge deixa claro que o doutor é um idoso asmático que não pode se locomover até os feridos do bando terrorista e que os remédios são escassos e somente disponibilizados para a pobre comunidade.
Citando o alcorão para fazer valer seu ponto de vista, consegue convencer os milicianos, que partem, mas deixam no ar que poderão voltar. E é onde entra o dilema moral que pontuará o resto do filme: Se os monges não podem confiar no exército corrupto da Argélia, poderão os monges abandonar o vilarejo e deixa-los a mercê dos terroristas? E em caso negativo, como homens de paz podem enfrentar a brutalidade dos tempos de guerra?
Devo confessar que cheguei na sala de cinema com o espírito despreparado para o que eu comecei a ver. Na primeira meia hora fiquei olhando para o relógio constantemente. As cenas parecem esparsas, sem conexão com a trama que é levada em banho maria até não aguentar mais. Os diálogos contribuem muito mais para a construção da personalidade dos monges do que ter relevância para a trama. Como se não bastasse a cantilena interminável e frequente pode incomodar aqueles que esperariam um drama oriundo de um blockbuster.
Mesmo com um posicionamento de complexo entendimento como esse, o filme é carregado de drama e foi me ganhando aos poucos. Absorvido no dilema dos monges a poderosa narrativa coloca todas as peças no lugar, obviamente o diretor teve de contar com a qualidade da fotografia e das interpretações para ganhar veracidade. E consegue com louvores e cenas quase antológicas.
Nos frames finais, as imagens ao mesmo tempo simples e fortes, ficaram gravadas na minha mente, suplantando todo o desgosto que eu senti na primeira meia hora do filme. Ainda assim, acho que se não tivesse duas horas de duração, se fosse um pouco menor para ser mais objetivo, seria uma obra prima a ser admirada pelas gerações futuras.
Um filmão para poucos, mas ainda assim um filmão, é recomendado aos que gostam de uma abordagem humanista e injusta da guerra, que vidas se perdem, mas nunca refletimos o quanto essas vidas foram importantes enquanto estavam vivas. O fato de ser baseado em eventos que realmente aconteceram só fazem apertar mais o coração do espectador que combalido pelas passagens anteriores, poderá sentir vontade de aplaudir. Não hesite, esse filme merece.

Trailer: