O cara certo, no lugar certo, na hora certa. Jamais pensei que pudesse dizer isso de mim mesmo, mas cá estou, numa temporada a trabalho no Rio de Janeiro e aproveitando as horas de folga para exercitar minha atividade favorita, assistir a filmes.
Eu particularmente sempre torci o nariz para festivais não temáticos, apesar de nunca ter tido a oportunidade de assistir a um até agora. o problema é que tenho um preconceito de que a grande maioria dos filmes indies ou do leste europeu ou orientais são assim por um bom motivo: Não tem apelo público e são realizados visando uma clientela específica. Resumindo, não gosto de filmes de arte, como não gosto de um quadro que dizem ser arte moderna e não consigo ver o sentido disso.
Mas enfim, estou na atual meca do cinema, uma grande estrutura e filmes para quase todos os gostos. É o Festival de Cinema do Rio com programação até o dia 07/10 e as produções que eu for vendo, deixarei minhas impressões no Tablóide.
Um dos grandes homenageados nesta edição do festival é o diretor Roman Polanski e como todos sabem ficou conhecido pelos seu talento por trás das câmeras e pela sua vida pessoal conturbada, especialmente o assassinato brutal de sua esposa Sharon Tate nas mãos de Charles Manson e seu relacionamento com uma garotinha de 13 anos, que provocou um incidente em que Polanski, mesmo passados décadas do julgamento, não pode mais plantar seus pés em solo estadunidense sob possibilidade de ir preso.
Sobre esse escândalo sexual é que gira o documentário de 2008, Polanski: Procurado e Desejado (Roman Polanski: Wanted and Desired), a típica história do cara errado, no lugar errado, na hora errada.
Embora tenha chegado uns 5 minutos atrasado na sessão (não conseguia achar o danado do cinema), creio não ter perdido nada de fundamental. O filme trata de como o passado traumático do futuro diretor se misturou com seu talento no cinema e por ser estrangeiro com outros costumes e um modo de vida que os puristas americanos tenham considerado repulsivo, causou um foco negativo em sua avaliação. Isso para se somar ao fato de que o homem ainda ganhava um bom dinheiro o que causava a inveja em seus pares e na imprensa.
O documentário usa inúmeras imagens da imprensa da época, relatos tirados dos autos do processo e entrevistas com os advogados de defesa e promotoria, bem como da própria vitima na época, hoje uma respeitável senhora casada a mais de 18 anos.
Os louros do filme vão para não tentar demonizar Polanski ou simplesmente inocentá-lo (embora tente mais por esse lado ao pegar muito mais depoimentos de amigos defendendo o diretor), mas apresenta os fados com uma cadência que ao menos entendemos o que se passou e fazermos nosso próprio juizo de valor. Talvez uma fala da vitima seja mais esclarecedora, quando ela dá a entender que se não entendemos o contexto e os fatos, não devemos emitir opiniões a respeito.
Outro trunfo é mostrar o circo midiático em volta do caso, tanto pela invasão de privacidade de Polanski e da própria garota de 13 anos, quanto para os holofotes sobre o juiz do caso, que estava muito mais interessado em ser uma estrela do espetáculo do que realizar um julgamento imparcial. Inclusive seu posicionamento foi considerado tão anormal e aético que tanto a acusação quanto a defesa fizeram moção para substituir o juiz (e conseguiram).
Talvez o problema da película tenha sido o foco, ao tratar da história não em uma linha coesa de fatos e sucessões, mas entrecortadas com os filmes que Polanski realizou e como o caso Tate foi de grande influência nas atitudes futuras do diretor. Esse vai e volta pode causar confusão na cabeça do espectador, especialmente aos que, como eu, não acompanham ferrenhamente os trabalhos de Polanski.
Entre erros e acertos, é um registro histórico de como a imprensa e os excessos muitas vezes podem assassinar reputações e causar muito mal aos envolvidos, talvez se nós não fôssemos tão ávidos em saber e julgar a desgraça dos outros, o cenário poderia ter sido diferente neste e em outros casos.

Trailer:

1 gritos:

pseudo-autor disse...

Como sempre, tinha de ser uma produção da HBO, que está se tornando excelência entre os canais a cabo como produotra de grandes filmes. Fiquei interessado nesse doc do Polanski. Grande diretor!

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com