Com meu monitor ainda monocromático não estou editando os vídeos do videocast, portanto vou falar de Copa do Mundo. Estranho um blog sobre cinema e horror falar de futebol, mas a época é propícia e o cenário é muito bizarro para deixar passar em branco. A essa altura todo mundo já viu o técnico da seleção Dunga dar uma de zangado (desculpem, não queria perder o trocadilho) e passar a coletiva do jogo Brasil e Costa do Marfim xingando baixinho o reporter da TV Globo, Alex Escobar.

Note que pela primeira vez na história da TV essa atitude gerou uma represália horas depois através de um editorial narrado no programa Fantástico daquela mesma noite pelo apresentador Tadeu Ximit (sic). Isso acarretou uma virulenta incursão no Twitter com o protesto "Cala Boca" e uma campanha para boicotar a Rede Globo no próximo jogo, Brasil vs. Portugal.

Por tras da aparente truculência gratuita da atitude do treinador, o internauta mais bem informado sabe que o buraco é mais embaixo. A recusa de Dunga em fornecer regalias a cobertura da vênus platinada (e para qualquer outra emissora) pegou pesado no Ibope da rede, e sabemos que a Globo "torcer pelo Brasil" significa mais TV's ligadas na emissora e consequentemente mais dinheiro. O problema real é tão simples como essa lógica matemática de alguns milhões de reais.

Não é raridade o caso de uma personalidade, ou mesmo um treinador de seleção, peitar a Rede Globo em "Open Warfare". Vide o caso de Vanderley Luxemburgo, que tentou fazer o mesmo e acabou fuzilado no paredão dos meios de comunicação da Globo. O ineditismo neste caso é o fator inclusão digital. Milhões de pessoas tiveram as vendas em seus olhos arrancadas pelo conflito de versões espalhadas pelos sites de notícias, blogs e redes sociais. Contra a manipulação na sala de edição, editoriais tendenciosos e manchetes falsas, a cabeça do internauta interessado no assunto não fica limitada a de um punhado de conglomerados, na Web a via da informação é larga e descongestionada e sem dúvida marca o início da era da desmonipolização do conhecimento e da pluralidade de opiniões.

O "basta" com humor tentado pelos internautas aos comentários ufanistas de Galvão Bueno casaram justamente com o repúdio mobilizado por populares dos métodos mesquinhos das grandes redes de TV para ganhar audiência e colocar na berlinda aqueles que usam a blindagem da liberdade de expressão para atuar como um quarto poder, colocando seus dogmas em cabeças substancialmente influenciaveis aos seus próprios interesses, de eleições presidenciais ao futebol.

E, claro, sendo as organizações Globo a maior delas e tendo suas entranhas podres expostas na Internet para qualquer ser pensante com um computador remexer, é capital que ao tocar seus tentaculos no maior valor atual para o cidadão brasileiro médio (a seleção brasileira em copa do mundo), as coisas se tornem bem mais agressivas. Se inicia a velha história de "quando a água bate na bunda, vagabundo aprende a nadar". Como a Web está cada vez mais importante e mais considerada na sociedade etilista brasileira (vide a capa da Veja desta semana que dá mais destaque ao Twitter que a morte de José Saramago), seus ecos na velha mídia não podem ser mais simplesmente ignorados.

Seria o fim da TV como conhecemos? Acredito que não, mas considerando que esse vizinho incômodo não é controlado por nenhuma empresa poderosa e é onde a liberdade de expressão é aplicada em sua forma mais pura e responsável, o único espaço onde manifestações como esta podem ser colocadas para apreciação do público "in natura", sem edição, sem tentativa de manipulação, separando explicitamente opinião e informação, as grandes emissoras começam a "se coçar" e isso é extremamente positivo.

Aprovando ou não o comando do time e o temperamento de Dunga, tenho que deixar o meu apoio a este cidadão que não deixa baixar a cabeça aos desejos do "grande irmão" idealizado por Orwell. RUMO AO HEXA BRASIL!

O Tablóide do Inferno apoia a campanha #DiaSemGlobo