Bem vindos! Primeiramente queria me desculpar pelo atraso do editorial, porém ainda estou de ressaca devido ao fantástico show da fantástica banda Iron Maiden no último domingo no Estádio Palestra Itália em São Paulo. E se não tivesse as pontas dos dedos para me comunicar, certamente não o faria, pois minha voz ficou no show e deve voltar só na semana que vem.. hehehe...Mas chega de falar sobre mim, neste editorial quero fazer uma pequena análise sobre a pirataria e qual é a responsabilidade nossa e das distribuidoras neste processo.
Não quero fazer falso moralismo ou dar um show de hipocrisia, não vem ao caso e já temos grande consciência disso pelas inúmeras campanhas publicitárias ridículas na TV, nos DVD's e no cinema ("olha só o que o esperto do seu pai comprou... Um filme PIRATA!!!!") querendo jogar toda a culpa no espectador e nele somente. O que quero explicitar são os fatores que levam as pessoas comuns e os fãs do gênero a piratear e com isso dividir os méritos.

A Culpa das distribuidoras

1) Atrasos
Conforme o breve anexo contido no artigo sobre O Retorno dos Malditos, os atrasos acabam com a paciência do fã, que fica sem alternativa além de recorrer aos Torrents, mesmo que isso indique uma baixa arrecadação nos cinemas depois. Não cola mais a desculpa de que os rolos demoram a ser legendados, pois estamos na era da Internet. Eu particularmente odeio assistir uma versão screener, mas não posso suportar quando o filme já saiu em DVD nos Estados Unidos enquanto não há sequer previsão para os cinemas daqui.
Vítmas Notorias: O Massacre da Serra Elétrica (2003), Death Proof, The Mist

2) Títulos genéricos e encartes sem atrativos
Parece ser um fator pequeno, mas não é. As distribuidoras colocam títulos sem o menor sentido com a produção original ou abusam da picaretagem para promover seus filmes, some isso a falta de qualidade e de correspondência dos encartes (alguns filmes sequer tem o título original) e você tem um sucesso irreconhecível para o público. Isso gera ignorância, ou seja, sem ter certeza de que seu filme favorito já saiu nas locadoras ou lojas do ramo, o espectador recorre a pirataria.
Vítmas Notorias: Terror no Pântano (Hatchet), Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead), Mal-e-violência (Malevolence)

3) Distribuição porca
Isso acontece quando não é fácil encontrar seu filme favorito nos cinemas, ou não é dado o devido destaque a produção que entra (Exemplo: Sweeney Todd) e em seguida sai para um filme muito mais imbecil (Exemplo: Espartalhões). Isso porque tem gente que ainda pensa que terror não dá mais bilheteria, numa semana está e na outra não mais. Essa culpa pode ser dividida entre as distribuidoras que disponibilizam poucas cópias e as grandes redes de cinemas que fazem questão de sumir com o filme do mapa até quatro meses depois quando sai em DVD. No caso dos clássicos, o problema acontece quando o filme é adquirido por uma empresa sem recursos que não tem condições de fazer uma distribuição mais completa, então quando a dificuldade de obter o material original, a opção mais cômoda é o download.
Vítmas Notorias (esses são mais pessoais): Sweeney Todd, Temos Vagas

4) DTV ao invés de cinema
DTV e a sigla americana para "Direct to Video" e pelos mesmos motivos acima a produção sai além de atrasada direto em DVD. Como (imagino) poucas pessoas possuem acesso a TV's de Plasma e Home Teather, o lançamento de uma produção multi conhecida e premiada direto em DVD atrapalha muito a diversão.
Vitmas Notorias: Hostel 2, Terror no Pântano

5) Lisura e Preguiça
Qual a diferença entre um filme baixado de um torrent e um DVD oficial? Certamente não é a dublagem, pois nestes casos a dublagem nacional deixa muito a desejar e talvez fosse melhor que nem houvesse. A diferença esta nos extras, comentários em áudio, making-of e featurettes que fazem toda a diferença entre pagar o produto de uma loja ou locadora ou pegar de graça na Internet, o pior além da falta, é que quando eles aparecem muitas vezes não são legendados, o que obriga o espectador a fazer cursinho de Inglês para saber como sua produção favorita foi feita.
Vitmas Notorias: A lista é grande, vale a pena colocar aqui?

6) Transferência
Nem tanto para as produções atuais e muito mais para os clássicos, os DVD's lançados no Brasil tem uma carência de transferência do material original para o disco nacional. São cenas ausentes, linguagens alteradas e fora de sincronismo, erros de contraste... Enfim, a lista grande faz algumas produções parecer oriundas de uma versão screener, a solução nestes casos é baixar uma melhor no Torrent da vida.
Vitmas Notorias: A Noite dos Mortos Vivos (1968), Evil Dead, Preludio para Matar

7) Itens Extras
Este caso não é bem culpa, mas seria a falta de um incentivo. Os itens extras (físicos) no pacote do DVD servem para decidir entre uma versão gambiarra do camelô e o pacote oficial. Seja uma capa dupla, um poster interno, um booklet ou uma caixinha estilosa. Estilo esse que não encarece tanto se fossem adotados com mais frequência.
Vitmas Notorias (em comparação com os importados): O Massacre da Serra Elétrica, Despertar dos Mortos, Akira

8) Clássicos renegados
O motivo de choro e ranger de dentes para a maioria dos cinéfilos (inclusive eu). A falta absoluta de interesse no lançamento dos grandes classicos ou produções interessantes que dispensa maiores detalhes.
Vitmas Notorias: Cannibal Holocaust (bem como quase todos os filmes italianos desta época), Army of Darkness, etc. etc. etc.

9) Valor do Ingresso
Tá, as grandes firmas de cinema podem alegar que uma coisa puxa outra: A pirataria encarece o ingresso que aumenta a pirataria e encarece ainda mais o ingresso. Mas a realidade é outra: O preço ingresso é simplesmente abusivo, em alguns locais chega a 20 reais ainda que possua quase 30 minutos de comerciais antes do filme começar. Supondo que você leve sua namorada para assistir também, some o preço da pipoca, deslocamento e outros gastos inerentes, fica muito mais fácil pagar um pernoite num motel e downloadear o filme em questão. Solução simples: horários com preços alternativos, sessões multiplas e valores menores.
Vitmas Notorias: O salário (rsrs...).

10) Desejo anárquico
Essa não é diretamente culpa das distribuidoras e pode ser considerada uma culpa dividida. Os orgãos de defesa dos direitos autorais insistem que a pessoa que baixa filmes e músicas é criminoso, colocando o fã no mesmo patamar de um traficante de drogas. Isso acaba gerando na cabeça de alguns o efeito oposto, uma vontade de quebrar as regras e ir contra ao sistema capitalista, seguindo literalmente o primeiro código de ética Hacker que diz que "toda a informação deve ser compartilhada". Uma solução é resolver todos os problemas acima e concientizar o público da importância em privilegiar o trabalho do estúdio e mais espaço a divulgação em vez de querer espancar o e-muleiro.

A Culpa do Espectador

1) Falta de Bom Senso
Muitos de nós, fãs do cinema fantástico, precisamos acumular bom senso. Assim como na indústria fonográfica nenhum esforço é suficiente para evitar que alguns deixem de piratear para adquirir o material original. É preciso colocar na cabeça destas pessoas que isso tem implicações que vão desde a economia até fatores éticos.

2) Fator Cow-hand
Ser mão de vaca tem seus limites, acredita que ainda existem pessoas que abrem mão da qualidade do DVD para simplesmente por não querer gastar dinheiro com uma locação e compram o disco vagabundo do camelô? É crítico pensar que existem pessoas assim, claro que isso esbarra na parte etica de perguntar "quanto dinheiro você gasta com seu gênero favorito", porém quem tem condições financeiras para fazer o contrário devia estar fazendo o correto.

3) Desinteresse
Se tem gente que não está afim de gastar, tem gente que simplesmente não se importa. O que estas pessoas não tem consciência é que não gerar receita para os filmes (especialmente deste gênero considerado marginal) desestimula a produção de novos filmes e esta bola de neve vai parar nas refilmagens das obras de Ed Wood...hehehe... Falando sério, roteiristas, diretores e atores vão deixar de fazer um filme genial pra se dedicar a um mais lucrativo, o que nunca é um bom negócio para nós espectadores. Enfim, reflitem sorbe isso, opinem, talvez não seja utopia, pois essa é uma ferida que precisa ser fechada para vivermos em harmonia com a indústria. Era isso que eu queria dizer hoje e tenham todos uma boa semana!!!
Uma campanha para a distribuição de cultura mais acessível e com mais qualidade.

2 gritos:

jonatam_q disse...

Muito bom esse seu texto Gabriel.

Tem mais um fator ainda nesse caso. Tem pessoas que, simplesmente, não possuem dinheiro o suficiente para adquirir as midias.
Lógico que quem tem dinheiro para comprar um pirata tem dinheiro para locar o mesmo filme original.
A questão é que essa pessoa pode ser um fã, como nós, e querer ter seu filme.
Essa pessoa tem dinheiro para locar um ou dois filmes por mes, mas não tem dinheiro para comprar o título.
Filmes ainda são itens supérfluos no Brasil e, como todo o resto, possui o peso dos encargos e custos embutidos.
Isso ja foi mencionado mas eu queria ressaltar mais. E o cinema? Bem, imagine um pai de familia que é cinéfilo. O cara, pra ver um filme com sua esposa gasta uns 50 reais no programa. Isso se o valor do ingresso não for tão alto.
No fim das contas esse cara pensa, com esse dinheiro eu adquiro uma internet razoável e tenho tudo em minhas mãos. Isso se a criatura não for além e descobrir que existem DVD's virgens a 2 reais e gravadores de DVD a 100. Nesse caso a festa é feita e temos mais uma pessoa que abandona tudo: cinema, locadora, submarino e americanas.
E quem culpa o cara no país onde milhares de reais circulam em cuecas?
Se a pessoa tiver condições, deve prestigiar, mas quem tem condições?
É a realidade.

Gabriel Paixão disse...

Isso é uma grande verdade, mas o que eu quero expor é justamente esta contra-partida de que se as distribuidoras nacionais fizerem a lição de casa, como nos Estados Unidos tem as distribuidoras de DVD Blue Underground e Anchor Bay, por exemplo, aí sim existe a chance real de diminuir a pirataria.
É claro que isso dá margem pra uma discussão infinita, pois uma parcela ínfimia dos brasileiros têm condições reais de comprar um DVD original e para eles eu concordo, pois como disse o acesso a cultura deve ser irrestrito e acessível, mas se mesmo esta parcela que possui recursos ficar baixando a bel prazer sem saber o mal que está causando, o circulo vicioso vai acabar com a indústria.
Por exemplo, se os DVD's da Works de Despertar dos Mortos não vendem, qual é o estímulo que ela tem em lançar a Ultimate Edition no Brasil?